sábado, 26 de janeiro de 2008

Medéia terá que morrer?

Estava pensando: será que Medéia terá que morrer para que eu possa viver em paz? Parece engraçado, ou até mesmo bizarro, mas é apenas um exemplo (eu mesmo sou apenas um exemplo disso tudo). Quem conhece a história, sabe quem é Medéia. Ela é uma personagem literário-mitológica, já usada por Eurípedes e Sêneca, sendo a mulher que mata os filhos por amor e vingança ao marido que escolheu uma nova esposa mais jovem. Eu tomei Medéia como um exemplo, como um protótipo. Em algumas vezes na nossa vida acabamos por incorporar algo ou alguém que não somos, mas que parecemos ou pretendermos ser, por inúmeras razões: aceitação de um grupo, auto-aceitação ou até mesmo auto-conhecimento.
Chegamos a um ponto importante: auto-conhecimento. É muito difícil responder a simples pergunta: "quem sou eu?". Tomamos consciência que ela não é tão simples assim. Às vezes, pelo afã de querermos saber quem somos, metemos os pés pelas mãos e nos iludimos a nós mesmos, criando personagens para a nossas vidas, tentando assim, preenchermos uma lacuna ainda vazia que é o nosso auto-conhecimento e respondermos aquela pergunta que pareceu tão simples. Então, nos espelhamos na Medéia, no Édipo, no Romeu, no Hamlet, na Blanche du Bois, na Soraia Montenegro, na Bia Falcão e até mesmo no Harry Potter.
Parece engraçado (seria cômico se não fosse trágico), mas é o que a maioria de nós fazemos mesmo que inconscientemente. E quando fazemos isso inconscientemente, creio que seja ainda pior, pois nem sabemos que estamos nos mascarando. Pior ainda quando a máscara já grudou à nossa cara e nem sabemos mais quem é personagem e quem é pessoa.
Buscar e encontrar a nossa personalidade (não as personagens dela, mas a essência) é realmente muito difícil e nem sempre conseguimos nosso intento. Por isso vamos fingindo que somos nós mesmos e, de vez em quando, nos percebemos seres reais. Mas aí ainda cabe a pergunta: seres reais de que realidade? Será que temos que guardar os livros na estante e as personas dentro de nós para tentarmos ser nós mesmo? Será difícil isso? Será que Medéia e outras personagens que revivemos tem que se despedir de nós, para que assim possamos viver?

Um comentário:

Nilce disse...

As máscaras são blindagens essenciais neste mundo canibal onde estamos inseridos... ferramentas do ofício do conviver. Entretanto a essência é algo que pulsa, vibra, independente do estado vegetativo em que as armaduras (máscaras) se imponham a nós.
Sucesso no blog, amei o texto more.
Fica na Pax.
Bjs no cuore,
Um leve bater de asas,
Nil.